por SS Gurusangat Kaur Khalsa
Em 1606, o imperador muçulmano Jahangir ordenou que o Guru Arjan
fosse torturado até a morte por ter se recusado a retirar do Siri Guru
Granth Sahib todas as referências islâmicas e hindus.
Guru Arjan compilou o Livro Sagrado do Sikh Dharma com poemas e
composições de inúmeros sábios e santos de várias tradições,
qualificando essa escritura como algo muito além de seu próprio tempo,
devido a sua universalidade e tolerância.
A condição imposta ao Guru Arjan escondia no fundo uma raiva devido a
muitos muçulmanos terem se convertido aos Ensinamentos do Guru Nanak e,
segundo relato escrito naquele mesmo ano pelo padre jesuíta Jerônimo
Xavier que presenciou acena da tortura, por também ter recusado pagar a
multa de não ser muçulmano. Segundo este jesuíta, Jahangir buscava com a
tortura desumana do Guru Arjan uma retratação e o pagamento, que
confirmaria a soberania muçulmana na Índia.
Como o Guru não cedeu, ele foi colocado em uma lâmina de ferro
incandescente, enquanto areia em altíssima temperatura era derramada
sobre seu corpo. Depois de suportar toda a crueldade do imperador, no
quinto dia de tortura implacável, ele foi levado para um banho no Rio
Ravi. Sob os olhares de todos, ele entrou nas águas e jamais retornou ou
foi encontrado. Seu desaparecimento permanece um mistério desde então.
Guru Arjan era amado por inúmeras pessoas de diferentes credos. Mesmo
o Imperador Jahangir, antes de assumir o trono, teria se apresentado na
Corte do Guru para ser abençoado. Guru Arjan era conhecido por sua
forte inclinação para as línguas, artes e arquitetura. Como todos os
demais Gurus, seu pontificado foi marcado por grande luta pela
igualdade, justiça social e serviço à humanidade sem qualquer distinção.
Como sucessor na linhagem do Guru Nanak, ele seguiu os passos de seu
pai, Guru Ram Das, e vivia uma vida de trabalho, seva e meditação.
No auge de sua tortura, seus alunos e amigos imploraram para que ele
interrompesse tudo aquilo, simplesmente parando de respirar, já que como
yogi, ele sabia e podia muito bem fazer isso. Mas, ele lançava a todos
um olhar compassivo e dizia que jamais faria isso, pois, no futuro
distante, os alunos do Dharma, privados daquele momento, deveriam saber
que ele não interrompeu a sentença escapando através do uso de seus
poderes yógicos. Ele queria que todos soubessem que ele recebeu sua
sentença sabendo ser verdade as palavras do Guru Nanak – tudo vem de
Deus.
Sua passagem é revestida de uma monumental verdade: seja lá qual for
as circunstâncias, cada ser humano pode se erguer acima delas e
permanecer fiel à sua identidade e morrer pela paz!
Como está dito no Siri Guru Granth Sahib, “lute por aquilo que seja correto, ainda que isso implique em você permanecer só”.
Que o legado do Guru Arjan nos inspire a viver uma vida correta,
digna e dedicada ao que é correto, sem medos ou sem nos corrompermos
para sermos aceitos.
Wahe Guru, Sat Nam.
Belo Horizonte, 5 de Junho, 2014.